Nos últimos anos, a vespa asiática (Vespa velutina) tem provocado avultados prejuízos nos produtores de mel da serra do Marão e territórios próximos, que têm visto grande parte das suas colmeias destruídas pela espécie invasora, prejudicando a economia do território. O projeto “Grupo Operacional Vespa Velutina – GO Vespa” surge no contexto desta problemática, com o intuito de desenvolver conhecimento e estratégias de controlo e minimização de prejuízos desta espécie invasora na produção apícola.
Projeto Grupo Operacional Vespa – GO Vespa – Controlo e minimização de prejuízos da espécie invasora Vespa velutina nigrithorax (Vespa velutina) na produção apícola.
Texto: José Aranha (Professor na UTAD)
Imagem: Damien Monteillard (ilustração digital)
Introdução
O Gabinete de Sistemas de Informação Geográfica da UTAD (Lab SIG UTAD) iniciou em 2012 o estudo da introdução e início de invasão da espécie Vespa velutina nigrithorax (Vespa asiática). Este trabalho surgiu de um desafio lançado pela APIMIL e recebeu todo o apoio da GNR e da Câmara Municipal de Viana do Castelo. Os resultados obtidos em 2013 permitiram monitorizar os primeiros ninhos identificados e destruídos. Também permitiu criar um mapa referente aos locais por onde era mais provável dar-se a expensão e a instalação de novas colónias desta espécie.
Em 2015, devido à forte expansão e à área invadida pela Vespa asiática, o Lab SIG UTAD participou na elaboração de uma candidatura a fundos comunitários para estudar esta invasão. O projecto foi submetido sob o acrónimo GesVespa e reuniu um vasto conjunto de entidades, sob liderança do INIAV. A aprovação do projecto permitiu-nos continuar a estudar e a modelar as áreas invadidas.
Em 2017, na sequência de todo este trabalho, o Lab SIG UTAD participou na elaboração de uma nova candidatura a fundos comunitários para continuar a estudar o avanço da Vespa asiática bem como estudar formas de monitorizar, controlar e minimizar os prejuízos causados por esta espécie no sector apícola.
Esta candidatura, liderada pela Dolmen, foi aprovada e o projecto está em desenvolvimento.
Objectivos e métodos
Actualizar a base de dados referente à localização de ninhos de Vespa asiática. Esta tarefa foi, e continua a ser, desenvolvida pelo Lab SIG UTAD). Como fontes de informação recorremos: ao ICNF (plataforma SOS Vespa), aos Gabinetes de Protecção Civil das Câmaras Municipais, aos Gabinetes de Coordenação das Comunidades Intermunicipais, aos apicultores que nos reportam a situação no espaço onde têm os apiários instalados e a informação prestada pela população.
Estudar a biologia da espécie em Portugal e actualizar o modelo referente à dinâmica da espécie ao longo do ano.
Estudar as épocas mais adequadas à instalação de armadilhas para capturar as vespas.
Estudar o tipo de armadilha e de isco mais adequado a cada época do ano.
Desenvolver modelos de probabilidade de expansão territorial da espécie que permitam identificar os locais mais adequados a instalar armadilhas quer os locais a evitar em acções de transumância.
Estudar e propor locais adequados a acções de transumância.
Estudar, desenvolver e propor um caderno de boas práticas apículas.
Resultados
Desde 2012 até à data, foi possível registar quase 42 000 ninhos, sendo que que 29 300 registos foram recolhidos na plataforma SOS Vespa e 12 600 são registos próprios conseguidos com o projecto. A análise dos registos anuais mostra que a progressão da invasão tem sido exponencial. No entanto, ainda que para os anos de 2013 a 2015 o número de ninhos registados tenha sido de 4 a 5 vezes mais do que no ano anterior, a partir de 2016 (inclusive) o aumento do número de ninhos registados não tem duplicado de um ano para o outro.
Em termos de armadilhas e de iscos, sem qualquer intenção de desvalorizar as propostas comerciais, verificámos que os apicultores (e a população em geral) prefere fazer as suas próprias armadilhas e iscos. Esta preferências resulta de dois factores: um económico, pois usam garrafas de água ou de refrigerante para fazer a armadilha e combinações de vinho, de cerveja, de sumo de frutas, que tenham disponível, e um social, pois sentem-se mais envolvidos e participantes no estudo do problema e na procura de soluções.
Um resultado importante até agora obtido é que a localização das armadilhas bem como a forma e o tipo de isco depende da época do ano. Na fase fim do inverno e primavera, as armadilhas têm como objectivo a captura de potenciais fundadoras e das obreiras que as acompanham. O isco tem de ser açucarado e conter álcool para evitar capturar abelhas e devem ser colocadas a mais de 10m das colmeias. Na fase do verão as armadilhas visam capturar obreiras caçadoras, os iscos devem ser açucarados e alcoólicos e ser combinados com proteína animal (carne ou peixe). As armadilhas deverão ser colocadas perto das colmeias.
A utilização de venenos, além de não ser legalmente permitida, não é adequada pois provoca a morte das abelhas não no local onde as vespas são “contaminadas”, mas nas colmeias vizinhas.
Da troca de experiências e de resultados com apicultores e com investigadores da Galiza, verifica-se que as capturas nas armadilhas dependem do grau de invasão do local onde os apiários estão instalados. De qualquer modo, é muito importante colocar as armadilhas e fazer a monitorização semanal. Desta monitorização pode-se perceber que tipo de vespa está a ser capturado, se velutinas se crabro e se são potenciais fundadoras ou obreiras de 1ª geração ou de 2ª geração.
Também verificámos que há potenciais fundadoras a fazer o ninho primário dentro de colmeias vazias que estejam próximas ou mesmo no apiário. A monitorização frequente destas colmeias bem como da base de todas as colmeias e fundamental para garantir que os apicultores não estão a contribuir para a disseminação casual da espécie.
Em termos de tecnologia, o projecto prevê a utilização de um radar e de um conjunto de emissores, colocados nas vespas, para seguir o voo das vespas desde as colmeias até aos ninhos. No entanto, ainda não se conseguiu cumprir esta tarefa. Dos ensaios feitos até à data, a dimensão da vespa e a rapidez do movimento não têm permitido utilizar o radar para monitorizar o voo. Está em estudo e em desenvolvimento um dispositivo que permita amplificar o sinal emitido pelo emissor colocado nas vespas.
Relativamente às ações de transumância, tem sido feito o acompanhamento destas acções e a monitorização dos locais, sendo que até à data não tem havido registo da presença de vespas nos locais escolhidos.
Para mais informação visite a página do Grupo Operacional Vespa Velutina www.go-vespa.pt